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Tarifa dos EUA sobre produtos brasileiros

  • Foto do escritor: Anna Carolina Romano
    Anna Carolina Romano
  • 10 de abr.
  • 4 min de leitura


Impactos, reações e estratégias do Brasil


A recente tarifa dos EUA sobre produtos brasileiros trouxe à tona um novo capítulo nas disputas comerciais internacionais. Anunciada no início de abril de 2025, a decisão do governo Donald Trump impõe uma alíquota adicional de 10% sobre todas as exportações brasileiras para os Estados Unidos.


A medida faz parte de um pacote mais amplo de taxações unilaterais com o objetivo declarado de buscar "reciprocidade" no comércio exterior. No entanto, do ponto de vista brasileiro, a justificativa é questionável. Isso porque os EUA vêm acumulando superávits comerciais significativos com o Brasil, tanto em bens quanto em serviços.


Este artigo analisa o contexto da nova tarifa dos EUA, suas implicações para o mercado brasileiro e as medidas previstas pelo governo federal e pelo Congresso Nacional diante desse cenário.


O que está por trás da tarifa dos EUA


No dia 2 de abril, o presidente Trump assinou uma ordem executiva impondo tarifas adicionais de 10% sobre quase todos os produtos importados pelos Estados Unidos. A medida atinge países como China, União Europeia, Indonésia e também o Brasil. A tarifa entrou em vigor em 5 de abril.


Segundo a Casa Branca, a decisão foi tomada para corrigir desequilíbrios tarifários. Como exemplo, Trump citou o etanol brasileiro, que teria uma alíquota de 18%, frente a 2,5% aplicada pelos EUA.


O que chama atenção é que, entre os países afetados, o Brasil foi um dos menos penalizados — mas ainda assim, a tarifa dos EUA deve impactar a competitividade dos produtos brasileiros. Setores como o agronegócio, que antes enfrentavam taxas médias de 3,9%, passam agora a arcar com cerca de 13,9% de carga tributária para acessar o mercado americano.

Presidente dos EUA, Donald Trump, em um palanque discursando sobre a nova tarifa dos EUA. Ao fundo bandeiras dos EUA.
Trump anuncia novas tarifas dos EUA a produtos importados. Crédito: Daniel Torok

A resposta oficial do Brasil


A reação do governo brasileiro foi imediata. Em nota conjunta, o Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços classificaram a tarifa dos EUA como "unilateral" e "incompatível com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC)".


O comunicado destacou que os Estados Unidos mantêm superávit comercial com o Brasil, acumulando mais de 410 bilhões de dólares em quinze anos. Portanto, a ideia de que a taxação se dá por falta de equilíbrio comercial não condiz com os dados reais.


O presidente Lula também se manifestou, reforçando o compromisso com o livre-comércio, mas afirmando que o Brasil “não aceitará passivamente medidas protecionistas” e que utilizará “todas as ferramentas legais e diplomáticas” para defender seus interesses.


Lei da Reciprocidade Econômica: o Congresso em movimento


No mesmo dia do anúncio da tarifa dos EUA, o Congresso Nacional aprovou a chamada Lei da Reciprocidade Econômica. A nova legislação autoriza o Executivo a aplicar contramedidas comerciais — como tarifas equivalentes, suspensão de concessões e até medidas sobre propriedade intelectual — sempre que o Brasil for alvo de práticas discriminatórias no comércio internacional.


Essa lei é considerada uma resposta estratégica, conferindo ao Brasil instrumentos legais para reagir a barreiras comerciais injustificadas, como a atual tarifa sobre produtos brasileiros.


A proposta recebeu amplo apoio político, sobretudo da Frente Parlamentar da Agropecuária, e se tornou peça central na estratégia de defesa econômica brasileira.


Caminhos multilaterais e diplomacia internacional


Outra frente considerada pelo governo brasileiro é a OMC. Embora o sistema de resolução de disputas da OMC esteja parcialmente paralisado, o Brasil sinalizou que pretende apresentar o caso no organismo, reforçando o compromisso com regras internacionais e buscando apoio de outras nações também afetadas pela taxação americana.


Essa abordagem multilateral é coerente com a tradição diplomática brasileira, que privilegia o diálogo e a mediação coletiva em fóruns como o G20 e o BRICS. O objetivo é pressionar os EUA a rever sua posição sem provocar uma escalada de retaliações que possa desestabilizar ainda mais o comércio global.


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Setores mais afetados pela tarifa dos EUA


O impacto da tarifa dos EUA será sentido de forma mais intensa por setores com forte dependência do mercado americano. É o caso do agronegócio brasileiro, responsável por exportar produtos como suco de laranja, etanol, sebo bovino, carne processada e madeira perfilada.


Um levantamento da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) indicou que 19 produtos agropecuários terão impacto considerado “crítico” ou “alto”. Por exemplo, 90% do suco de laranja importado pelos EUA vem do Brasil — e a nova alíquota pode reduzir em até 70% o volume exportado.


A indústria de transformação também está no centro das preocupações. A Embraer, por exemplo, envia cerca de 63% de suas exportações de aeronaves para os Estados Unidos. Setores como máquinas, motores e produtos químicos têm participação semelhante.


O posicionamento do setor produtivo


As principais entidades empresariais brasileiras manifestaram preocupação com a tarifa dos EUA, mas pedem cautela na adoção de retaliações. A CNA defende que todas as alternativas diplomáticas sejam exploradas antes da ativação de contramedidas. A FIESP segue a mesma linha e enfatiza que o diálogo é “o caminho mais seguro”.


A Confederação Nacional da Indústria (CNI), por sua vez, reforça a importância de detalhar os impactos por setor e garantir articulação entre setor público e privado. Há consenso de que o Brasil deve manter a postura de firmeza, mas sem romper com parceiros estratégicos.


Alternativas e estratégias para mitigar impactos


Diante do novo cenário, o governo brasileiro e as empresas exportadoras podem adotar algumas estratégias para mitigar os efeitos da tarifa dos EUA:


  • Diversificação de mercados: buscar novos destinos para produtos atualmente concentrados nos EUA, como Oriente Médio e Ásia.


  • Ocupação de nichos: aproveitar a elevação das tarifas para outros países e ocupar espaços deixados por concorrentes mais afetados.


  • Apoio interno: o governo pode lançar mão de medidas emergenciais, como créditos para exportadores, incentivos à agregação de valor ou desonerações pontuais.


  • Contramedidas legais: com base na Lei da Reciprocidade, o Brasil pode aplicar tarifas similares sobre produtos americanos ou suspender direitos de propriedade intelectual — mas essa via, segundo o governo, só será acionada após esgotadas as negociações.


A imposição da tarifa dos EUA coloca à prova a capacidade de articulação do Brasil no cenário internacional. Firmeza, estratégia e articulação entre Executivo, Legislativo e setor produtivo serão fundamentais para proteger a economia brasileira e evitar uma escalada de tensões.


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