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Saúde mental no trabalho

  • Foto do escritor: Anna Carolina Romano
    Anna Carolina Romano
  • 27 de mar.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 28 de mar.



O que dizem os dados, a legislação e as boas práticas empresariais


A saúde mental no trabalho deixou de ser uma preocupação secundária para se consolidar como um tema central nas agendas pública e corporativa do Brasil. De 2023 a 2025, o país assistiu a uma escalada nos afastamentos por transtornos mentais, pressionando o sistema previdenciário, desafiando lideranças empresariais e exigindo do Estado respostas regulatórias mais robustas.


Não se trata apenas de um dilema subjetivo ou de bem-estar individual, mas de uma questão estruturante para a produtividade, a sustentabilidade do ambiente de trabalho e, sobretudo, a dignidade do trabalhador. Neste artigo, exploramos os dados mais recentes, as novas regulamentações e os caminhos que empresas e gestores públicos estão trilhando diante da crise silenciosa que atinge a saúde psíquica da força de trabalho brasileira.


Uma epidemia invisível: os números da saúde mental no trabalho


Segundo dados oficiais do Ministério da Previdência Social, o Brasil registrou, apenas em 2024, um total de 472.328 afastamentos do trabalho por transtornos mentais – um salto de 67% em relação a 2023 e o maior número da série histórica. Para efeito de comparação, em 2020, no auge da pandemia, foram cerca de 91 mil licenças por motivos psicológicos, o que revela um crescimento superior a 400% em apenas quatro anos.


Transtornos de ansiedade e episódios depressivos lideram as estatísticas. Em 2024, foram 141.414 afastamentos por ansiedade e 113.604 por depressão, respondendo por mais da metade dos afastamentos por questões mentais no país. O impacto econômico é igualmente expressivo: estima-se que o INSS tenha desembolsado mais de R$3 bilhões apenas com licenças relacionadas à saúde mental em 2024, sem contabilizar os custos indiretos às empresas.


Os dados também revelam um recorte de gênero: 63,8% dos afastamentos foram de mulheres, evidenciando que elas sofrem com múltiplas jornadas e, muitas vezes, com ambientes de trabalho mais hostis ou desiguais. Por outro lado, estudiosos apontam que muitos homens deixam de procurar ajuda por receio do estigma, o que pode mascarar parte da realidade.


Mulher sentada em escritório em frente a um notebook. Ela está com as mãos na cabeça e olhos fechados
Afastamentos ocasionados por transtornos de saúde mental batem recorde. Crédito: Freepik

O que mudou na legislação brasileira nos últimos anos


Diante desse cenário alarmante, o Estado brasileiro implementou mudanças normativas importantes no período recente. A principal delas foi a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), aprovada pelo Ministério do Trabalho e Emprego. A partir de 26 de maio de 2025, todas as empresas estarão obrigadas a identificar, avaliar e mitigar riscos psicossociais no ambiente de trabalho, como assédio, sobrecarga, jornadas extensas e metas desproporcionais.


Essa inovação normativa posiciona a saúde mental no trabalho como responsabilidade legal e estratégica, inserida de forma transversal nas políticas de Segurança e Saúde no Trabalho (SST). A omissão diante de práticas que adoeçam o trabalhador poderá, a partir de então, configurar infração à legislação trabalhista.


Outra medida relevante foi a sanção da Lei nº 14.831/2024, que criou o certificado "Empresa Promotora da Saúde Mental". A iniciativa estabelece critérios públicos para reconhecer empresas que adotem práticas efetivas de promoção do bem-estar psicológico. Entre os requisitos estão: a oferta de apoio psicológico aos colaboradores, treinamentos para lideranças, campanhas de conscientização e políticas de combate ao assédio.


Embora facultativo, o selo dialoga diretamente com as agendas ESG e poderá se tornar diferencial competitivo, especialmente diante de stakeholders que valorizam organizações socialmente responsáveis.


O papel das empresas e os desafios da coerência


No campo empresarial, o aumento da conscientização levou diversas organizações a estruturarem programas de apoio à saúde mental. Segundo dados de consultorias especializadas, cerca de 67% das empresas brasileiras já oferecem algum tipo de assistência psicológica a seus colaboradores, seja por meio de plataformas digitais, atendimento terapêutico ou canais internos de acolhimento.


Ações como flexibilização da jornada, promoção do equilíbrio entre vida pessoal e profissional, campanhas educativas e treinamentos para gestores também têm ganhado espaço. Estima-se que aproximadamente 46% das empresas realizem ações sistemáticas de educação em saúde mental, enquanto 30% oferecem regimes de trabalho híbrido ou flexível como forma de reduzir o estresse.

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Apesar dos avanços, persistem desafios. Relatórios recentes revelam que existe um descompasso entre a percepção da alta gestão e a vivência dos funcionários. Estudo do McKinsey Health Institute apontou que os líderes tendem a avaliar em 22% mais positivamente a saúde mental nas empresas do que os próprios trabalhadores. Além disso, o número de denúncias por assédio e discriminação nos canais internos das organizações cresceu 28% em 2024, segundo a consultoria KPMG.


Esse descompasso acende um alerta: sem mudanças estruturais na cultura organizacional, muitas iniciativas correm o risco de se tornarem ações cosméticas – o chamado wellbeing washing. Para que a saúde mental no trabalho deixe de ser apenas um discurso, é necessário comprometimento genuíno, recursos concretos e liderança comprometida.


Agravantes e a conexão entre mente e corpo


A literatura científica e os dados públicos indicam que os principais fatores de risco psicossocial no ambiente de trabalho incluem sobrecarga, metas inalcançáveis, insegurança no emprego, assédio moral ou sexual, ausência de reconhecimento e más condições físicas de trabalho.


A Organização Mundial da Saúde (OMS) adverte que o estresse crônico, quando não gerido, pode desencadear doenças cardiovasculares, diabetes e até o comprometimento do sistema imunológico. Ou seja, a saúde mental no trabalho está intrinsecamente ligada à saúde física e deve ser tratada de forma integrada pelas organizações.


A negligência com a saúde mental dos colaboradores compromete não apenas o bem-estar individual, mas também a produtividade, a reputação institucional e o desempenho econômico de longo prazo. A promoção de ambientes saudáveis, acolhedores e seguros é, portanto, uma condição indispensável à sustentabilidade das empresas e à justiça social no mundo do trabalho.


A Inteligov, ao oferecer soluções tecnológicas que monitoram o cenário legislativo, pode ser uma aliada estratégica para empresas que desejam se manter atualizadas e alinhadas às novas exigências legais relacionadas à saúde e segurança do trabalho. Antecipar-se às mudanças regulatórias e compreender os riscos psicossociais emergentes é essencial para uma governança corporativa responsável.


Em tempos de incertezas e transformações, cuidar da saúde mental no trabalho é, antes de tudo, um compromisso com o futuro – mais justo, mais humano e mais inteligente.


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