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Foto do escritorAnna Carolina Romano

O que é o pacote de corte de gastos?


Título do artigo ao lado de uma imagem de uma seta vermelha apontando para baixo, ao lado algumas moedas e cédulas de dinheiro

Em novembro de 2024, o governo brasileiro anunciou um ambicioso pacote de corte de gastos com o objetivo de equilibrar as contas públicas e garantir a sustentabilidade fiscal do país. O plano busca economizar R$70 bilhões até 2026, abrangendo medidas que afetam desde a tributação até benefícios sociais, passando por mudanças estruturais em aposentadorias e salários.


Esse conjunto de ações reflete a preocupação com o controle do déficit fiscal e a estabilização da dívida pública, mas também desperta debates sobre seus impactos econômicos e sociais. 


Este artigo explora os principais pontos do pacote de corte de gastos, seus efeitos para a sociedade e a economia, além das etapas legislativas e da reação do mercado.


O pacote em detalhes


Reajuste do salário mínimo

Uma das primeiras mudanças propostas no pacote de corte de gastos, pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é o reajuste do salário mínimo. Atualmente, o valor é corrigido pela inflação, com um adicional baseado no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). A nova regra, no entanto, limita o aumento real a 2,5% ao ano, independentemente do desempenho econômico. 


Essa medida visa controlar o aumento das despesas públicas, dado que vários benefícios sociais estão vinculados ao salário mínimo. Porém, para os trabalhadores, a perspectiva é de menor ganho real, o que pode afetar o consumo das famílias e o dinamismo econômico em um cenário de corte de gastos.

Fernando Haddad junto a outros ministros do governo em coletiva para anunciar o pacote de corte de gastos
Fernando Haddad anuncia PEC de corte de gastos. Créditos: Fabio Rodrigues-Pozzebom /Agência Brasil
Alterações no Abono Salarial

Atualmente, o limite de elegibilidade para o abono salarial é de R$2.640, o que equivale a dois salários mínimos. No entanto, o plano do governo é manter o valor nominal congelado até que, com os reajustes do salário mínimo, ele passe a representar 1,5 salário. Essa alteração reduzirá gradualmente o número de trabalhadores aptos a receber o benefício.


Embora o objetivo seja concentrar os recursos em quem mais necessita, a medida deve excluir uma parcela significativa de beneficiários ao longo do tempo, o que levanta debates sobre justiça social e o alcance das políticas de redistribuição de renda.


Reforma na Aposentadoria Militar

Uma mudança significativa é a fixação da idade mínima de 55 anos para a aposentadoria de militares, antes sem restrição. A proposta inclui também a padronização das contribuições para o Fundo de Saúde e o fim da redistribuição de cotas de pensão em casos de falecimento de dependentes. 


Essas medidas atendem à necessidade de alinhamento com o regime previdenciário civil, mas enfrentam resistência de setores militares, que tradicionalmente têm grande influência política.


Imposto de Renda

Uma das promessas mais divulgadas pelo governo, a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para rendas de até R$5 mil mensais, não será implementada imediatamente. Com um custo estimado de R$35 bilhões anuais, a proposta do governo é condicionada à criação de espaço fiscal. 


Enquanto isso, a tributação de rendas superiores a R$50 mil mensais será aumentada, com uma alíquota mínima efetiva de 10%. Essa redistribuição busca aliviar a carga tributária sobre a classe média, mas levanta preocupações no mercado sobre seus impactos na arrecadação.


Benefícios Sociais (BPC e Bolsa Família)

O Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o Bolsa Família, programas essenciais para a proteção social, passarão por uma nova auditoria conforme proposto por Fernando Haddad. 


A implementação de biometria para concessão e renovação do BPC é uma das estratégias para evitar fraudes. Embora a medida tenha o potencial de aumentar a eficiência, há receios de que ela torne o acesso mais difícil para populações vulneráveis, especialmente em regiões remotas.


Controle de Emendas Parlamentares

Para conter o aumento de gastos discricionários, as emendas parlamentares terão um limite de crescimento anual. Essa decisão busca evitar aumentos excessivos e promover maior controle fiscal.


No entanto, a limitação pode gerar atritos com o Congresso, tradicionalmente dependente dessas emendas para atender demandas regionais.


Impactos econômicos e sociais


O pacote de corte de gastos apresenta desafios significativos. Do ponto de vista fiscal, ele é crucial para conter o déficit público e evitar uma escalada da dívida. No entanto, as medidas também levantam preocupações:


Consumo e crescimento econômico

A limitação no aumento do salário mínimo e mudanças em benefícios sociais podem reduzir o poder de compra das famílias, impactando negativamente o consumo e o crescimento do PIB.


Justiça social

As alterações no abono salarial e a auditoria de benefícios sociais geram debates sobre o impacto nas populações mais vulneráveis.


Confiança do mercado

A reação inicial do mercado foi de cautela, com o dólar ultrapassando R$6,00 e quedas no Ibovespa. Contudo, sinais de recuperação surgiram após o apoio do Congresso à proposta.


Tramitação no Congresso

A tramitação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que viabiliza o pacote de corte de gastos segue um processo legislativo rigoroso. O texto foi enviado ao Congresso Nacional, onde a primeira etapa ocorre na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). 

Fernando Haddad junto a congressistas em coletiva de imprensa
Governo busca o apoio de congressistas. Créditos: Andressa Anholete / Fotos Públicas

Essa comissão analisa a constitucionalidade e a admissibilidade da proposta, determinando se ela está em conformidade com os princípios da Constituição. Uma vez aprovada, a PEC segue para uma comissão especial, responsável por debater o mérito da proposta, realizar audiências públicas e propor ajustes necessários.


Após o trabalho da comissão especial, o texto é submetido ao plenário da Câmara dos Deputados, onde precisa ser aprovado em dois turnos, com o voto favorável de pelo menos três quintos dos parlamentares (308 dos 513 deputados). 


Se aprovada, a proposta é encaminhada ao Senado, onde passa pelo mesmo processo, também com votação em dois turnos e a exigência de três quintos dos votos (49 dos 81 senadores). A aprovação nessas etapas é essencial para que a PEC avance.


Após aprovação em ambas as Casas, a PEC é promulgada em sessão conjunta do Congresso Nacional, integrando-se ao texto constitucional. Dada a complexidade e o curto prazo antes do recesso parlamentar, o governo precisa de uma articulação política eficiente para evitar atrasos e garantir que o texto final atenda aos objetivos fiscais propostos.


O que está em jogo?


O pacote de corte de gastos é uma tentativa do governo de equilibrar a responsabilidade fiscal com os compromissos sociais, um desafio que exige precisão na implementação e articulação política. O sucesso depende de garantir que as medidas sejam efetivas, com ações bem planejadas e executadas para atingir os resultados esperados sem comprometer serviços essenciais.


Além disso, a tramitação no Congresso requer um esforço estratégico para evitar alterações que desidratem o texto original, comprometendo o impacto fiscal pretendido. A construção de um consenso político será fundamental para que as medidas avancem sem grandes resistências, especialmente em temas sensíveis como benefícios sociais e tributação.

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Por fim, o governo precisa manejar com cautela os impactos sociais das mudanças, mitigando os efeitos sobre os mais vulneráveis. O equilíbrio entre ajuste fiscal e proteção social será um teste de habilidade política e administrativa, com implicações significativas para a economia e o bem-estar da população.


Por que o pacote de corte de gastos exige atenção redobrada?


O pacote de corte de gastos anunciado pelo governo representa um marco no esforço de ajustar as contas públicas e garantir a estabilidade econômica do Brasil. No entanto, essas medidas não vêm sem desafios, pois trazem implicações políticas e sociais profundas, que podem impactar significativamente a vida da população no curto e longo prazo.


Para profissionais de relações governamentais, compreender cada etapa da tramitação dessa PEC e suas potenciais consequências é imprescindível para navegar no novo cenário fiscal e se adaptar às mudanças legislativas.


Com ferramentas adequadas, como a Inteligov, é possível monitorar de forma precisa as alterações regulatórias e planejar estratégias eficazes para enfrentar essas transformações com segurança e proatividade.



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