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Foto do escritorAnna Carolina Romano

O papel do grassroots nas políticas públicas


Título do artigo ao lado de uma imagem em 3D de grama no solo

A representatividade é um dos pilares fundamentais de qualquer democracia. Ela conecta diferentes atores — sejam indivíduos ou instituições — em torno de objetivos comuns. Para além do sistema eleitoral, no qual a representatividade se manifesta como base do regime democrático, ela também se materializa em práticas como lobby, advocacy e grassroots. 


No contexto das políticas públicas no Brasil, esses três elementos desempenham papéis distintos, porém complementares. Neste artigo, explicaremos como o grassroots, em particular, se destaca como uma ferramenta de mobilização popular que influencia diretamente o processo de formulação de políticas públicas.


Também exploraremos as suas diferenças em relação ao lobby e ao advocacy, seu funcionamento prático, exemplos de sucesso no Brasil e os desafios que enfrenta, como o astroturfing. Além disso, discutiremos a importância da transparência e das ferramentas de monitoramento governamental para fortalecer o impacto desses movimentos na arena política.


Diferenças entre lobby, advocacy e grassroots


O lobby é uma prática legítima e necessária para influenciar diretamente agentes públicos e políticos durante o processo de tomada de decisões. É uma atividade mais estruturada, geralmente conduzida por profissionais que dialogam com legisladores e reguladores em nome de seus clientes ou causas. 


Já o advocacy tem como principal objetivo defender uma causa de interesse público, buscando mudanças que beneficiem a sociedade como um todo, por meio de campanhas de conscientização e engajamento.


O grassroots, por sua vez, se diferencia dessas práticas pelo modo como é concebido e executado. Traduzido como "raiz da grama", o conceito faz referência a movimentos que partem da base da sociedade, em um formato de organização horizontal. 


O objetivo principal do grassroots é a mobilização popular, reunindo grupos locais, regionais ou nacionais para exercer pressão sobre o poder público, influenciando políticas públicas de forma colaborativa.


Como funciona o grassroots?


Movimentos grassroots são orientados pela ideia de decisões "de baixo para cima" (bottom-up), ao contrário de iniciativas "de cima para baixo" (top-down), que são impostas por autoridades ou elites. Essa abordagem busca empoderar as comunidades locais, fornecendo a elas as ferramentas necessárias para defender seus interesses junto às esferas de poder.


Mulheres com os punhos fechados levantados para o alto indicando um protesto
O principal objetivo do grassroots é a mobilização popular. Créditos: Freepik

A liderança nesses movimentos emerge naturalmente entre os membros da comunidade, à medida que eles se unem para lutar por objetivos compartilhados. O poder coletivo é uma característica central, onde a ação conjunta se torna mais impactante do que iniciativas individuais. 


A mobilização local é capaz de influenciar diretamente a criação e a implementação de políticas públicas, especialmente quando essas comunidades são organizadas e conseguem dialogar com o poder público.


Exemplos de grassroots em ação


No Brasil, há diversos exemplos de mobilizações grassroots que impactaram diretamente as políticas públicas. Um dos casos mais notáveis é a greve dos caminhoneiros em 2018, que paralisou o país devido ao aumento no preço dos combustíveis. 


A mobilização, que começou com a organização local dos caminhoneiros, rapidamente se espalhou por diversos estados, bloqueando estradas e afetando o abastecimento de bens essenciais. A pressão gerada pelo movimento forçou o governo a negociar com os manifestantes, levando à criação de medidas para controlar os preços do diesel e reduzir os impostos sobre combustíveis.


Outro exemplo marcante de grassroots no Brasil é a luta pela reforma agrária, liderada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Esse movimento, que começou nas comunidades rurais, exerce pressão contínua sobre o governo e o Congresso para promover a redistribuição de terras no país, impactando diretamente as políticas públicas agrárias.


No cenário internacional, um exemplo clássico de grassroots é o movimento sufragista nos Estados Unidos, que lutou pelo direito de voto feminino. A mobilização de mulheres em todo o país foi crucial para a ratificação da 19ª Emenda à Constituição Americana, garantindo o direito ao voto para as mulheres, um marco significativo na luta por igualdade de gênero.


A importância da mobilização para as políticas públicas


A mobilização grassroots desempenha um papel vital no fortalecimento da democracia, pois permite que vozes que normalmente estariam à margem do processo decisório tenham a oportunidade de influenciar as políticas públicas. No Brasil, essa mobilização é especialmente importante em comunidades periféricas e rurais, onde o acesso a recursos e a representatividade formal são frequentemente limitados.


Ao unir esforços em torno de causas comuns, esses movimentos conseguem pressionar o poder público a adotar políticas que atendam às suas demandas. Um exemplo recente é a campanha de pequenos e médios produtores rurais durante a tramitação do novo Código Florestal. Por meio de mobilizações organizadas em Brasília, os produtores conseguiram influenciar a votação e defender seus interesses em questões ambientais.


Grassroots e astroturfing: desafios e legitimidade


Embora os movimentos grassroots sejam legítimos e essenciais para o processo democrático, eles enfrentam um desafio crescente: o astroturfing. Esse termo, derivado da marca de grama sintética AstroTurf, refere-se a práticas que mascaram patrocinadores de uma campanha, criando a falsa impressão de que a mobilização é genuína e oriunda da base popular. Em essência, o astroturfing é uma forma de manipulação da opinião pública, usada para promover interesses particulares sob o disfarce de um movimento grassroots.


Um exemplo notável de astroturfing foi relatado pela jornalista americana Sharyl Attkisson. Durante uma palestra no TEDx, Attkisson descreveu como a indústria farmacêutica criou uma falsa epidemia de insônia nos Estados Unidos para promover a venda de um medicamento específico, o Lunesta. A manipulação da opinião pública por meio de campanhas aparentemente legítimas levanta preocupações sobre a transparência e a ética no processo de mobilização popular.


Identificar e combater o astroturfing é fundamental para proteger a legitimidade dos movimentos grassroots. O envolvimento genuíno da comunidade e a transparência nas intenções são essenciais para que esses movimentos mantenham sua credibilidade e continuem a desempenhar um papel importante na formulação de políticas públicas.


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O papel das plataformas de monitoramento no apoio ao grassroots


As plataformas de monitoramento governamental, como a Inteligov, são fundamentais para potencializar a eficácia das campanhas grassroots. Movimentos que buscam influenciar políticas públicas dependem de informações precisas e atualizadas para atuar no momento certo e de maneira estratégica. 


A Inteligov oferece soluções que permitem aos líderes de movimentos populares monitorar a tramitação de projetos de lei em tempo real, identificar mudanças regulatórias e acessar informações críticas sobre decisões políticas.


Além de acompanhar o progresso de legislações, a plataforma Inteligov possibilita que os movimentos grassroots utilizem ferramentas como a Matriz de Relevância e o Termômetro para avaliar a probabilidade de aprovação de determinados projetos. Essas funcionalidades auxiliam na priorização de pautas e na definição de momentos ideais para mobilizar suas bases, tornando a atuação mais assertiva.


Outro diferencial da Inteligov é a capacidade de centralizar e organizar informações dispersas de fontes oficiais, facilitando o acesso a dados que poderiam passar despercebidos por movimentos que atuam de forma mais descentralizada.


Ao integrar essas funcionalidades em uma única plataforma, a Inteligov empodera os movimentos grassroots com ferramentas avançadas de monitoramento, permitindo que eles ajam de forma mais informada e coordenada, maximizando seu impacto na formulação e execução de políticas públicas.



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