A Inteligov convidou o Adelvânio Francisco Morato para falar sobre os desafios enfrentados pelo setor hospitalar durante a crise ocasionada pela Covid-19, além de dar um panorama geral sobre como o mercado está lidando com a volta do trabalho presencial, regulamentação de inovações no setor da saúde e impactos da tecnologia no atendimento médico.
Atualmente, Adelvânio preside a Federação Brasileira de Hospitais (FBH) e participou das gestões anteriores como vice-presidente e secretário geral. Também é sócio-proprietário do Instituto do Rim de Goiânia e atual presidente da Associação dos Hospitais do Estado de Goiás (AHEG). Formou-se em Medicina pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e especializou-se em Urologia na Santa Casa de Misericórdia de Goiânia. Também tem pós-graduação Lato Sensu em Administração em Cooperativas Médicas pela Universidade Católica de Goiás.
A Covid-19 impôs mudanças em todos os setores, principalmente no da saúde. Em pouco tempo, todos os players deste mercado tiveram que tomar decisões difíceis para enfrentarem esse desafio. Na sua opinião, qual foi o momento de maior dificuldade enfrentado pelos hospitais e clínicas no país durante a pandemia?
Desde o início da pandemia, fomos todos desafiados de diversas maneiras. Sempre costumo dizer que nenhum hospital do mundo está preparado para lidar com uma crise sanitária desta proporção. Destaco, entre os momentos mais difíceis, a falta generalizada de insumos para o atendimento à população, desde a escassez de EPIs, passando pela falta de respiradores e a falta de oxigênio em algumas cidades, como Manaus.
Também chamo a atenção para o momento em que não havia mais os kits para intubação e a dificuldade em lidar com altas taxas de absenteísmo, em decorrência do grande número de profissionais que foram contaminados pela Covid-19. Já para os hospitais que não estavam na linha da frente do atendimento ao coronavírus, não tenho dúvidas, o pior momento foi a suspensão dos atendimentos eletivos. Isso provocou sérios prejuízos financeiros aos estabelecimentos.
A crise fez com que novas oportunidades surgissem no meio do caminho, como o avanço da tecnologia e a adesão da população em utilizar ferramentas para reuniões remotas. Quais as consequências da aceleração tecnológica para o setor hospitalar?
Certamente, temos acompanhado uma grande explosão de novas tecnologias que estão auxiliando em romper desafios importantes, e que não são de agora. Como a telemedicina, por exemplo, que tem proporcionado grandes benefícios ao levar atendimento a regiões remotas.
Acredito que esta grande aceleração tecnológica, que já invade os sistemas de gestão e gerenciamento das informações para o sistema – acabando, inclusive, com o gasto desnecessário de papel – não tem volta. Ainda devemos conviver por um bom tempo com certos abismos dentro do Brasil, tendo em vista a heterogeneidade de nossa rede hospitalar: de um lado estabelecimentos modernos com tecnologia de ponta e, de outro, pequenos estabelecimentos lutando para se manter nos recantos mais distantes deste imenso Brasil.
Atualmente, passamos a conviver com o coronavírus em nossa rotina. Percebemos o retorno das atividades e dos pacientes que haviam adiado tratamentos e cirurgias eletivas retornando aos hospitais. Como você vê este momento para o setor?
Este é um momento de retomada que tem demandado do Estado brasileiro, assim como das operadoras de saúde, um olhar mais estratégico para ampliar a oferta de atendimentos à população.
Precisamos ter em mente que o montante de procedimentos acumulados abarca algumas situações: As pessoas que tiveram suas consultas e exames cancelados durante a pandemia; os pacientes que já estavam em tratamento e precisaram suspendê-los (muitos deles estão agora com a situação agravada); e ainda temos os milhões que carregam alguma sequela da Covid-19 e que necessitam de reabilitação. Portanto, a hora é de pensarmos em como ampliar o acesso da população à assistência em todo país.
Após o período de enfrentamento ao coronavírus e a rápida entrega de uma vacina eficaz, é possível perceber uma maior exigência da população em encontrar soluções para diagnósticos e tratamentos. Qual o maior desafio para a regulamentação de inovações para o setor hospitalar?
Acredito que os aspectos relacionados à segurança e à confiabilidade ganharam ênfase em todos os sentidos. As pessoas aprenderam a cuidar melhor de si e a entender elementos básicos da prevenção, como por exemplo a importância da simples limpeza das mãos.
Portanto, acredito, da mesma forma, que o desafio na regulamentação de inovações está na garantia da segurança de todos os envolvidos no processo: o paciente, o profissional de saúde, o estabelecimento, o acompanhante.
Além das iniciativas voltadas para as pessoas, há também a preocupação com as iniciativas ambientais e de governança por parte do setor hospitalar. Como são aplicáveis os fatores ESG para esse segmento?
Atualmente, a Federação Brasileira dos Hospitais (FBH) tem fomentado, por meio de suas publicações técnicas e de suas participações em fóruns e painéis de debate, a implementação das práticas de ESG (Environmental, Social, and Corporate Governance) na rede hospitalar brasileira.
Estamos conscientes da necessidade de gerenciar os impactos do setor no meio ambiente, assim como de preparar nossos líderes e gestores para a correta atenção ao tema, implementando iniciativas que promovam o olhar abrangente para a preservação dos recursos naturais, a responsabilidade com os impactos sociais, e com a transparência que a sociedade exige.
Porém, é preciso ter em mente que a nossa rede é heterogênea e que, por isso, essa discussão ainda está longe da realidade de grande parte dos nossos estabelecimentos, sobretudo daqueles que estão situados nos pequenos municípios do interior.
Um dos grandes questionamentos acerca da aprovação da reforma tributária diz respeito ao aumento da carga de tributos para o setor da saúde. Quais seriam os impactos da aprovação da reforma para hospitais e laboratórios? Quais são os argumentos para a redução da tributação proposta pelo texto?
A saúde, embora seja uma das áreas mais estratégicas ao bem estar da população, é um dos setores mais tributados pelo Estado brasileiro. Os hospitais da rede privada têm uma dívida com o Tesouro Nacional de mais de R$70 bilhões, o que impede os estabelecimentos de investir em ampliação e modernização de seus serviços.
Atualmente, todas as propostas que tramitam no Congresso Nacional agregam custos que vão onerar os serviços, retirar consumidores e elevar, consequentemente, as demandas de saúde no setor público.
São projetos que incidem no aumento brutal de preços e serviços prestados pelo setor, que deverão ser repassados, ao final, para o consumidor. Esse é um impacto significativo não apenas para empresários, mas sobretudo para usuários de planos de saúde, que hoje representam cerca de 25% de toda a população.
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